Fechando essa viagem com um voo cancelado, cheguei em casa agora, 12h do dia 29. Resolvo, então, colocar nutrícula na ativa pois foi assim que voltei da Flip: com uma vontade renovada de fazer muita literatura.
Ao total, foram 9 noites mal dormidas, um recorde, e vou comentar sobre alguma delas aqui, junto com questões muito positivas da viagem (pois nem só de tragédias vive essa escritora iniciante).
(primeira foto de Paraty, na ponte, observando os barcos)
Onde é o início?
Posso começar dizendo que escrevo desde 2016, quando entrei para a graduação em Escrita Criativa da PUCRS. Sim, entrei sem nunca ter escrito um conto, meio na loucura e no improviso mesmo, e admito que isso até hoje não passou. Foi nesse ano que comecei a escrever “nos beats no coração de um musaranho”, que na época tinha outro título, e que acabou sendo o meu trabalho de conclusão de curso. Sim, o “beats” é antigo assim. E, aliás, ele nasceu nessa época pois a homenageada de 2016 foi Ana Cristina C., e me adentrei tanto na literatura dela que, desde lá, queria viver essa tal de Flip, com livro e tudo.
(em 2018, em São Paulo, já tendo defendido a primeira versão dos “beats”)
Pulamos para 2021, quando “os beats” já estava há anos circulando pelas editoras e nada de sair, até que encontrou o querido Jorge da 7Letras. Editora encontrada, demorou um tanto ainda para realmente acontecer, saindo pelo meio do ano de 2023. Sensação esquisita, admito, já não estava mais familiarizada com o livro pois foi a Vitória de 25 anos que o escreveu, e não a de 30. E mal sabia eu que mais uma labirinto estava se formando: no início desse mesmo ano escrevi umas 200 páginas de poemas ao lado de meu grande amigo Guilherme. E aí, ficamos sabendo do tal edital da Patuá e… fomos os últimos selecionados e, sim, o último livro a ser entrega para a gráfica a tempo da Flip. E foi assim que tudo começou.
O Labirinto Insone
Com o tempo mais apertado de todos, comprei passagem de última hora e só poderia ir por São Paulo (vou precisar de muitas edições para comentar todos os labirintos que vivo nesta cidade, indo e vindo desde 2012). Consegui ficar em Santa Cecília, meu bairro amado. Mas por uma infelicidade, peguei um lugar com o pior lençol, como diria a Chris, “zero fios”. A primeira noite insone foi num calorão (que só viria a piorar) enrolada ao estilo de Laura Palmer. De noite, sentada no banco do prédio, lendo as mensagens atrasadas dos cards de Whatsapp de Shabat Shalom de minha vó, vi que estavm comemorando o aniversário judaico de uma criança logo na porta aberta na minha frente, o que me invadiu com questões sobre uma possível maternidade, uma busca ideológica, o desejo por uma comunidade e o labirinto da ancestralidade (sim, pode deixar que eu vou falar sobre cada uma dessas questões ao longo da newsletter).
Vou pular alguns acontecimentos e chegar à primeira noite da Flip, onde ocorreu um caso que só poderia ter saído diretamente de um conto de horror (e talvez por isso mesmo vire o título do livro que estou escrevendo agora). Chuva de lacraias. E no meu colo. Ok, depois descobrimos que eram apenas centopeias, ou algo do tipo, mas na hora eu lá sabia o nome científico do inseto horroroso de mil patas que simplesmente caiu no meu colo. E depois mais outro. E por fim mais um até que eu decidisse que aquilo não era coisa da minha cabeça e que bichos estavam realmente caindo diretamente em cima de mim. Descobrimos que eles estavam escapando pelo alçapão que havia logo acima da minha cama, provavelmente pelo calor extremo que fazia. Uma imagem tão marcante que ainda não consigo elaborar. Chuva de lacraias…
(é claro que eu não vou colocar aqui a foto terrível de uma lacraia)
O Labirinto da Flip de Dia
Me falaram que Paraty era pequena, mas não foi com isso que me deparei. O centro histórico é grande e, com a programação da Flip acontecendo, ficou ainda maior. Deixei para ver as palestras do palco principal no Youtube e me concentrei nas diversas casas que haviam. Fiquei picotando as conversas, catando frases, olhando um pouco de cada e formando meu mosaico de ideias. Acabei sabendo um pouco mais de Pagu, refleti e me desesperei sobre a crise climática (inclusive bem visível com o calor, frio e chuva repentinos), vi um fragmento da cabeça de Silvia Federici, ouvi muito sobre memória, política, descolinização, fim do gênero e saúde mental. Caminhei tanto que, em apenas um dia, meu celular marcou 32,3 km.
(Mesa Experiências de sombras, ruínas e exposições na poética e na ficção. Ieda Magri + Julia Dantas + Patrícia Lavelle + Rute Simões Ribeiro, com mediação de Paula Jacob)
O Labirinto da Flip de Noite
Me falaram tanto das festas incônicas, mas não foi com isso que me deparei. Tirando uma noite maravilhosa na casa Sete Selos (onde subi no palco e dancei pertinho de Maria Homem), o resto foi um tanto… confuso? Consegui entrar em diversas festas, mas admito que devo estar muito mal acostumada com os rolês eletrônicos de Porto Alegre, que duram até mais tarde, tem iluminações complexas, performances e música ao vivo e de alta qualidade. Foi tanto desespero para achar uma muvuca que andava, andava e parava sempre no mesmo lugar, a tal rua Dona Geralda. Estávamos em cinco mulheres e admito que chegou a bater um certo desespero por não conseguir achar a saída pois nem o Google Maps funcionou nesta noite. O que ficou foi a vontade de trazer eu mesma uma festa daquelas, e já estou começando a me programar para a Flip 2024.
Onde é o fim?
A Flip foi um momento muito especial de novos encontros, reencontros e organização de futuros encontros. Sinto que ela foi o desaguar de anos de escrita, amizades e trabalho. Agora, estou com “nos beats do coração de um musaranho” e “verbo primordial:”, com lançamento em breve em Porto Alegre. Nessa volta, ainda recebi a animada notícia de que minhas amigas ganharam o Prêmio Ages: Julia Dantas – “Ela se chama Rodolfo” em Narrativa Longa; Irka Barrios – “Júpiter Marte Saturno” em Narrativa Curta e Livro do Ano; Natasha Centenaro – “Liberdade”, em Dramaturgia pelo coletivo As Dramaturgas.
Ainda tem muita coisa vindo, especialmente nessa primeira semana de dezembro.
Comecei a nutrícula.
E nos vemos em breve!
FIRST OF THE FIRSTS!
A flip foi massa ainda, e um dos motivos foi poder te dar um abraço! Me identifico com uns pontos de seu relato, mesmo tendo sido minha segunda flip. E eu tava lá na festa icônica da 7Selos também, mas mais pro fundo, dançando agarradinho hehehehe No fim das contas deu pra aproveitar bem, e também estou me planejando pra 2024! Até lá!
Foi ótimo te encontrar! <3